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As nossas organizações estão preparadas para resolver problemas complexos?

Por Além das Palavras 4/8/2020 7:47:22 PM

As nossas organizações estão preparadas para resolver problemas complexos?

A pandemia de Covid-19 vem produzindo repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala global, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e históricos sem precedentes na história recente da humanidade.

A estimativa de pessoas infectadas e mortos concorre diretamente com o impacto sobre os sistemas de saúde, com a exposição de populações e grupos vulneráveis, a sustentação econômica do sistema financeiro e da população, a saúde mental das pessoas em tempos de confinamento e temor pelo risco de adoecimento e morte, acesso a bens essenciais como alimentação, medicamentos, transporte, entre outros.

Além disso, a necessidade de ações para contenção da mobilidade social como isolamento e quarentena, bem como a velocidade e urgência de testagem de medicamentos e vacinas evidenciam implicações éticas e de direitos humanos que merecem análise crítica e prudência.

É de senso comum que estamos diante uma situação de muita amplitude e de alta complexidade. E a sociedade global precisa desenvolver iniciativas que sejam sistêmicas, participativas e inovadoras o suficiente para dar conta desses desafios interligados.

No entanto é preciso tomar cuidado com a palavra “problema” quando nos referimos a pandemia do Convid-19, porque ela implica a existência de uma solução. Em problemas altamente complexos, dificilmente haverá uma resposta única e certeira.

Para ajudar a entender se um problema é complexo ou não, a situação apresenta três tipos de complexidade: (i) a complexidade dinâmica, quando causa e efeito são distantes no tempo e no espaço; (ii) a complexidade geracional, quando a situação com que se depara é absolutamente nova e nada do que já foi trazido como solução pode ser aplicado; e a complexidade social (iii), quando há atores com diferentes interesses, perspectivas e entendimento sobre os assuntos em análise.

São dinamicamente complexos quando sua causa e seu efeito são interdependentes, mas se encontram afastados no espaço e no tempo e, portanto não podem ser tratados com sucesso se forem abordados por partes, mas só com uma visão sistêmica.

São socialmente complexos quando os atores envolvidos têm diferentes perspectivas e interesses e, portanto não podem ser resolvidos por especialistas e autoridades, mas só com o engajamento dos próprios atores envolvidos.

São generativamente complexos quando seu futuro é imprevisível e indeterminado e, portanto não podem ser atacados com sucesso mediante a aplicação de soluções baseadas nas “melhores práticas” do passado, mas só com a aplicação de soluções novas e comprometidas com as “práticas futuras”.

Reconhece-se que não existe fórmula mágica para resolver tais problemas, porque os desafios complexos não são coisas resolvíveis. Nestas situações de alta complexidade os problemas com os quais temos que lidar são “indomáveis”. São problemas que não aceitam soluções prontas criadas em laboratórios ou escritórios a ser implementadas a posteriori. São problemas que reagem de maneira estranha, até intuitivamente contra. Para lidarmos com problemas sociais complexos é necessário caminhar por entre eles, de preferência acompanhados de todos os interessados na resolução e através de uma forma aberta de falar, escutar e criar novas realidades.

Diante de tamanha complexidade que a pandemia do Covid-19 nos trouxe, temos duas escolhas: desistir ou nos render.

Desistir significa abandonar nosso esforço de criar novas realidades sociais, e consequentemente, manter a conservação da realidade atual da nossa sociedade. Render-se significa aceitar que não podemos garantir qual será o resultado final dessa empreitada e, sendo assim, só nos resta mergulhar na construção novas realidades sociais.

Qual escolha você irá fazer?

Fontes: “Como Resolver Problemas Complexos: uma forma aberta de falar, escutar e criar novas realidades” de Adam Kahane (2004), “Teoria U - Como liderar pela percepção e realização do futuro emergente” de Otto Scharmer (2010) e “Poder e Amor - Teoria e Prática da Mudança Social”, de Adam Kahane (2010).