As nossas
organizações estão preparadas para resolver problemas complexos?
A pandemia de Covid-19 vem
produzindo repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em
escala global, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos,
políticos, culturais e históricos sem precedentes na história recente da
humanidade.
A estimativa de pessoas infectadas
e mortos concorre diretamente com o impacto sobre os sistemas de saúde, com a
exposição de populações e grupos vulneráveis, a sustentação econômica do
sistema financeiro e da população, a saúde mental das pessoas em tempos de
confinamento e temor pelo risco de adoecimento e morte, acesso a bens
essenciais como alimentação, medicamentos, transporte, entre outros.
Além disso, a necessidade de
ações para contenção da mobilidade social como isolamento e quarentena, bem
como a velocidade e urgência de testagem de medicamentos e vacinas evidenciam
implicações éticas e de direitos humanos que merecem análise crítica e
prudência.
É de senso comum que estamos
diante uma situação de muita amplitude e de alta complexidade. E a sociedade
global precisa desenvolver iniciativas que sejam sistêmicas, participativas e
inovadoras o suficiente para dar conta desses desafios interligados.
No entanto é preciso tomar
cuidado com a palavra “problema” quando nos referimos a pandemia do Convid-19,
porque ela implica a existência de uma solução. Em problemas altamente complexos,
dificilmente haverá uma resposta única e certeira.
Para ajudar a entender se um
problema é complexo ou não, a situação apresenta três tipos de complexidade: (i)
a complexidade dinâmica, quando causa e efeito são distantes no tempo e no
espaço; (ii) a complexidade geracional, quando a situação com que se depara é
absolutamente nova e nada do que já foi trazido como solução pode ser aplicado;
e a complexidade social (iii), quando há atores com diferentes interesses,
perspectivas e entendimento sobre os assuntos em análise.
São dinamicamente complexos quando
sua causa e seu efeito são interdependentes, mas se encontram afastados no
espaço e no tempo e, portanto não podem ser tratados com sucesso se forem
abordados por partes, mas só com uma visão sistêmica.
São socialmente complexos quando
os atores envolvidos têm diferentes perspectivas e interesses e, portanto não
podem ser resolvidos por especialistas e autoridades, mas só com o engajamento
dos próprios atores envolvidos.
São generativamente complexos
quando seu futuro é imprevisível e indeterminado e, portanto não podem ser
atacados com sucesso mediante a aplicação de soluções baseadas nas “melhores
práticas” do passado, mas só com a aplicação de soluções novas e comprometidas
com as “práticas futuras”.
Reconhece-se que não existe
fórmula mágica para resolver tais problemas, porque os desafios complexos não
são coisas resolvíveis. Nestas situações de alta complexidade os problemas com
os quais temos que lidar são “indomáveis”. São problemas que não aceitam
soluções prontas criadas em laboratórios ou escritórios a ser implementadas a
posteriori. São problemas que reagem de maneira estranha, até intuitivamente
contra. Para lidarmos com problemas sociais complexos é necessário caminhar por
entre eles, de preferência acompanhados de todos os interessados na resolução e
através de uma forma aberta de falar, escutar e criar novas realidades.
Diante de tamanha complexidade
que a pandemia do Covid-19 nos trouxe, temos duas escolhas: desistir ou nos
render.
Desistir significa abandonar
nosso esforço de criar novas realidades sociais, e consequentemente, manter a
conservação da realidade atual da nossa sociedade. Render-se significa aceitar
que não podemos garantir qual será o resultado final dessa empreitada e, sendo
assim, só nos resta mergulhar na construção novas realidades sociais.
Qual escolha você irá fazer?
Fontes: “Como Resolver Problemas
Complexos: uma forma aberta de falar, escutar e criar novas realidades” de Adam
Kahane (2004), “Teoria U - Como liderar pela percepção e realização do futuro
emergente” de Otto Scharmer (2010) e “Poder e Amor - Teoria e Prática da
Mudança Social”, de Adam Kahane (2010).