O sócio-diretor da Além das Palavras,
Fábio Risério escreveu um artigo que foi publicado na Coluna Opiniões e
Análises no site do Instituto Ethos, "Será que as organizações estão
preparadas para resolver problemas sociais complexos?" O artigo falou
sobre isso e sobre como a pandemia da Covid-19 nos trouxe duas escolhas:
desistir ou nos render. O endereço do site do Ethos é o www.ethos.org.br
O artigo na íntegra segue abaixo:
A pandemia da Covid-19 vem produzindo
repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala global,
mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e
históricos sem precedentes na história recente da humanidade.
A estimativa de pessoas infectadas e
mortas concorre diretamente com o impacto sobre os sistemas de saúde, com a
exposição de populações e grupos vulneráveis, a sustentação econômica do
sistema financeiro e da população, a saúde mental das pessoas em tempos de
confinamento e temor pelo risco de adoecimento e morte, acesso a bens
essenciais como alimentação, medicamentos, transporte, entre outros.
Diante desta situação de tamanha
amplitude e de alta complexidade, a sociedade global precisará desenvolver iniciativas
que sejam sistêmicas, participativas e inovadoras o suficiente para dar conta
desses desafios interligados.
No entanto, é preciso tomar cuidado
com a palavra “problema” quando nos referimos a pandemia da Covid-19, porque
ela implica a existência de uma solução. Em problemas altamente complexos,
dificilmente haverá uma resposta única e certeira.
Para ajudar a entender se um problema
é complexo ou não, a situação precisa apresentar três tipos de complexidade: a
dinâmica, a geracional e a social.
Um problema é dinamicamente complexo
quando sua causa e seu efeito são interdependentes, mas se encontram afastados
no espaço e no tempo e, portanto, não pode ser tratado com sucesso se for
abordado por partes, mas só com uma visão sistêmica.
É socialmente complexo quando os
atores envolvidos têm diferentes perspectivas e interesses e, portanto, não
pode ser resolvido por especialistas e autoridades, mas só com o engajamento
dos próprios atores envolvidos.
É generativamente complexo quando seu
futuro é imprevisível e indeterminado e, portanto, não pode ser atacado com
sucesso mediante a aplicação de soluções baseadas nas “melhores práticas” do
passado, mas só com a aplicação de soluções novas e comprometidas com as
“práticas futuras”.
Reconhece-se que não existe fórmula
mágica para resolver tais problemas, porque os desafios complexos não são
coisas resolvíveis. São problemas que não aceitam soluções prontas criadas em
laboratórios ou escritórios a ser implementadas a posteriori. Para lidarmos com
problemas sociais complexos é necessário caminhar por entre eles, de
preferência acompanhados de todos os interessados na resolução e através de uma
forma aberta de falar, escutar e criar novas realidades.
Diante de tamanha complexidade que a
pandemia da Covid-19 nos trouxe, temos duas escolhas: desistir ou nos render.
Desistir significa abandonar nosso
esforço de criar novas realidades sociais e, consequentemente, manter a
conservação da realidade atual da nossa sociedade. Render-se significa aceitar
que não podemos garantir qual será o resultado final dessa empreitada e, sendo
assim, só nos resta mergulhar na construção de novas realidades sociais.
Qual escolha você irá fazer?